quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

De Lenin a Churchill - Terceiro dia

Catedral de Vilnius
   Depois daquela noite, mais o fuso horário, acabei acordando ao meio dia... :-(
   Como tava sem câmera fotográfica, fui a um shopping. Cheguei lá na base do inglês e dos gestos (quando o inglês não servia). O shopping se chamava Akropolis. Lá, almocei uma salada com suco de laranja e uma torta de chocolate de sobremesa, com vista ao ringue de patinação no gelo. Temos shoppings no Brasil que tem isso também, assim como cinemas, lojas (é claro), supermercado (em alguns), mas nesse, além de tudo isso, tinha também um casino...
Rei Mindaugas
   Agora sim, comprei a câmera. Chega de me virar com o celular. Só tive que pagar a vista... Não se parcela pra estrangeiro. Os funcionários me ajudaram a desempacotar tudo e colocar a câmera na bolsa. Tudo sob um olhar bem atento de uma segurança, que fez cara feia quando me despedi dela.

Teleférico para a torre Gediminas
   Na volta, pedi informação sobre qual ônibus tomar pra voltar pro Centro pra umas garotas. Elas iam pegar a mesma condução. Depois, pedi pra me ajudarem a saltar, iam no mesmo lugar. No ponto, elas deram meia parada, perguntaram se poderiam ir junto e saíram para me mostrar a cidade. Elas eram de outra cidade, chamada Jonava, mas conheciam os principais lugares. Gostei muito mesmo de Vilnius. Do tipo de lugar aonde eu moraria.
   Andamos a cidade toda. Quase tudo tinha o mesmo estilo medieval, até mesmo a rua com lojas de grife. A exceção de um único prédio.
   Por fim, tentamos subir na torre Gediminas. O teleférico estava fechado. A única opção seria dar a volta no morro. Pensei em deixar pro dia seguinte. Não ia abusar da compania delas.
Árvores de outono
   Vi pela primeira vez árvores sem folhas, das que desenhamos ou vemos em figuras quando se fala do outono. O que pra mim era uma novidade, era tão comum pra elas, que riam da minha cara de bobo. Sem problemas. Sempre ficamos assim quando vemos uma novidade. Foi assim na primeira vez que vi neve.
"cuidado um dinossauro está se aproximando!!!"
   De repente, passa um carro de polícia, sozinho, fechando o transito e, no megafone, dizendo algo em lituano. Perguntei pras meninas o que ele dizia e me responderam rindo: "cuidado um dinossauro está se aproximando !!!". Atrás, a uma certa distância, tinha um carro em forma de dragão ou dinossauro passando e, atrás do dinossauro, vinham os outros carros... ninguém soube me dizer o que era aquilo, nem no albergue. será um carnaval fora de época??? hahaha

Igreja São Paraskeva - Símbolo de reconstrução

   Depois que elas foram embora, fui pedir informação sobre como voltar ao albergue a uma mulher na rua. Antes dela poder dizer algo, apareceu um cara. Parecia zangado. Começou a falar rápido em lituano, mas acho que entendi a palavra Brasil ou brasileiro, talvez pela bandeira costurada na mochila. No começo, achei que era um namorado ciumento. Depois passei a achar que ele era um tipo xenófobo. Era tudo muito perfeito pra não ter um louco.
Palácio Presidencial
Eu comecei a dizer que não entendia, em inglês. A mulher falou alguma coisa e ele foi embora tão rápido quanto tinha aparecido.  Estranho, talvez estivesse somente bêbado. Pensei em perguntar pra mulher sobre o que ele tinha dito tanto. Ela, que parecia nervosa, me deu a indicação que eu queria e caiu fora. Olhei pra trás e tive certeza de que não estavam juntos...

Garotos com embaixadinha com bolinha
   Depois disso, fiquei na praça aonde tinha tido a tal situação, vendo um grupo de garotos fazendo uma espécie de embaixadinha com uma bola, dessas que se usam pra apertar contra estresse, como se faz com petecas. Uns eram bem habilidosos... Tinham vários grupos brincando assim. Outros mostravam  sua prática com bicicletas e skates. Fiquei um bom tempo vendo eles, enquanto anoitecia e as luzes se acendiam.

Estátua de Gediminas - Fundador de Vilnius
   Mudei de lugar. Parei e sentei aos pés de uma estátua, que depois descobri ser do fundador de Vilnius. Um cara tocando violão fazia o som de fundo. Um tempo depois, surgiu um bêbado pedindo cigarro e citando Shakespeare. Aproveitei o gelo quebrado pela situação pra perguntar a um casal  que  estava lá o se poderia fazer a noite. A garota falava pouco inglês e o cara, irmão dela, absolutamente nada. No final, me vi só com ele me levando a entrada de uma discoteca, que me pareceu super cara. Ele se despediu e foi embora. Não quis entrar. Parti pra uma casa de crepe que tinha mais a frente, com um estilo super legal. Parecia um jardim de infância e a atendente, que também era a cozinheira, ficava em um balcão que era um carro antigo cortado. O crepe estava gostoso, mas o chá de casca de laranja adoçado com mel estava super forte, quase intragável pro meu paladar.
Naquela noite, decidi não sair. Só tinha um dia pra passear e não queria acordar de novo ao meio dia...

De Lenin a Churchill - Segundo dia

Voando pra Vilnius
   Resolvi dividir os dois primeiros dias da seguinte forma: o primeiro, o voo Air France e o segundo, os primeiros momentos em Vilnius, apesar de ter sido tudo no mesmo dia: de acordar no primeiro voo da Air France até o fim do dia em Vilnius, porque tantas coisas aconteceram pra um só dia, com lugares e situações tão específicas que, na minha cabeça, foi como se realmente tivessem sido dois dias diferentes.
   Os voos estrangeiros são muito mais baratos que os nossos, mas em muitos deles, como no Air Baltic, tem que pagar por mala a ser posta no bagageiro e pela refeição. Senti certa saudade das barrinhas de cereal.
   Do meu lado, se sentou uma garota. Bonita e bem vestida. Só conversamos um pouco e sobre o esquema da comida. Ela me disse que conhecia o piloto e que ele tinha liberado o jantar pra amiga. Ela me ofereceu um pouco. Apesar de estar com fome, não iria atacar a refeição dela. Educadamente agradeci e recusei.
   Em Vilnius, somente a casa de câmbio estava aberta. Lá era sexta-feira, as 21 horas. Pro meu relógio biológico, eram 16 horas.
   Parei no ponto de ônibus. Fui procurar qual me deixaria na cidade velha. Aparentemente, o ponto era mais afastado e já teria passado o último carro. Um garoto se aproximou. Ele falava um pouco de inglês. Estava com a mãe, que só falava em lituano. Ele me disse que o ponto seria ali. A forma de ver o horário dos ônibus, era girando uns cilindros no poste. Só aprendi depois.
   No ônibus, me sentei ao lado de uma senhora e perguntei pela cidade velha. Não falava inglês. Mostrei o mapa. Ela me disse que não passava lá (linguagem universal: gestos) e pra saltar no ponto Armada (se a memória já não me falha). Fui falar com o motorista. Ele nem quis conversa, dizendo "no english". Insisti, repetindo o nome do ponto. Resolveu me dar atenção e me deixou no tal ponto.
   Lá, não tinha nada além de um posto de gasolina (sem frentista). Agora sim. Tô perdido. Parou uma caminhonete e o cara começou a abastecer. Pensei: "se não falar com esse cara, vou dormir no ponto, literalmente" e corri antes que ele terminasse. Perguntei se falava inglês. "A little", respondeu. Perguntei pela cidade velha, ele me ofereceu carona. Apesar do receio, era melhor do que ficar ali. Ele me contou que teve um parente que morou em São Paulo. Que bom, estou em casa... haha
Entrada da vila, onde fica o albergue
   Minha carona me deixou perto da rua do albergue e chamou uma garota que passava. Ela disse que trabalhava justamente no meu albergue e que estava num happy hour e que, por coincidência, só tinha ido alí pra buscar alguma coisa. Me apontou o endereço.
   Me perdi um pouco. Era uma vila de prédios. No meu prédio, a colocação da placa me fez subir um andar a mais. Bati na porta. Uma voz de homem gritou: "NO HOSTEL !!!". Acabei achando.
   Troquei de roupa (sem roupa de trabalho, aleluia) e fui procurar um lugar pra me divertir a noite.
   No albergue, achei duas opções na internet e fui ver como eram. O primeiro foi legal. Se chamava Artisti. Tocava pop e parecia muito com bares daqui (Bar, mesas, pista de dança). Fiz amizade com uns caras. Um deles tava super bêbado. Foi assim, um dos caras veio do nada abraçando e tal. Em seguida, um amigo dele veio me pedir desculpas. Voltou um tempo depois me convidando pra mesa deles. Depois de umas conversas e bebidas, fomos pra pista de dança. O mesmo que tinha me abraçado ficou em cima da mulherada. Resultado: foram convidados a se retirar. Comecei bem. Tentei conversar com o segurança. Ele me disse pra tomar cuidado. Depois entendi a questão. Um deles era russo. Um problema na Lituânia. E todos bêbados, afastava a clientela. Me convidaram pra ir com eles. Resolvi ir. Pegamos um táxi. Eles esqueceram um amigo deles, justamente o mais bêbado e que tinha causado todos os problemas. Voltamos com o táxi. Dessa vez, eu fiquei.
   Não quis terminar ali a noite e fui pra um lugar chamado Bix. A casa tinha três andares, mas o subsolo era o principal. Parecia uma caverna comprida, onde tinha o bar e, no final, tinha a pista de dança. Só rock... o mais leve era Linking Park. Muito bom. Um cara se aproximou de mim. Me levou a mesa dele. Estava com a irmã e o cunhado. Lá me vi eu de novo, conversando. Só sai de lá quando o bar fechou, às 3 da manhã, conversando com um outro pessoal que conheci depois, quando de volta a caverna.
   Estava bêbado, com frio, perdido, com vontade de ir no banheiro, mas feliz. Olhei no relógio e eram 20 horas no Brasil. Não estava no trabalho, nem no engarrafamento. Estava em uma cidade que parecia uma vila medieval. Pequena e agradável, com um povo que se aproxima e quer conversar, mesmo só falando em lituano. Me senti em casa mesmo tão longe.
   Mas, já dentro da vila, o álcool fez o seu efeito. Entrei no albergue. Fui direto dormir.

De Lenin a Churchill - Primeiro dia

Sem câmera, vai o celular mesmo...

   Dia de embarcar pra Europa. Nem acreditava. Fui direto do trabalho. De roupa social e mochilão nas costas. Mãe e namorada se despedindo. Ultimas fotos. Hora de embarcar.
   Dentro do avião, de um lado um homem e do outro um grupo de senhoras. Vamos viajar.
   Depois de algum tempo, começei a conversar com o homem. Ele era um francês, prestando serviço no Brasil. Ele me disse que não falava português e que nem precisava, pois lá todos falavam inglês. Assim, falamos em inglês a maior parte do tempo e um pouco em francês. Precisava treinar. Enquanto isso, ele ia tomando umas garrafinhas de whisky.
    Algumas horas depois, entre dormidas e conversas com o francês, e algumas turbulências mais tarde, o whisky começou a fazer efeito. Ele começou a ensaiar uma mistura estranha de espanhol com francês e achando que falava português. Hora de parar um pouco com o papo. Não dava pra se entender. Falei um pouco com as senhoras. Muito divertidas. Descobri que o grupo era grande de terceira idade e que metade dos acentos eram deles. O legal foi que na hora que falei em português, elas estranharam. Acharam que eu era estrangeiro. E realmente seria. Por pouco mais de um mês...
   Meu voo tinha uma conexão em Paris e a entrada na França foi realmente tranquila. Precisava receber o carimbo de entrada pra ir pegar o outro voo pra Copenhague. A mulher só olhou pra mim, depois de carimbar o meu passaporte, ainda porque perguntei onde era o banheiro. Que nem tive tempo de usar. Tinha que correr.
   Embarquei. Resolvi bater umas fotos. Seriam as primeiras desde o Rio. Me dei conta que a câmera não estava comigo. Falei com a comissária. E ela falou com alguém. Não era mais possível um procura. Bom, vou voltar pra Paris em um mês, pensei. Procuro com calma. Fazer o que? Paciência...
   Chegada em Copenhague. Hora de pegar as malas na esteira. Esperar uma mala que não vem e vendo todos irem embora é uma sensação muito chata. Só sobramos eu e uma mala que não era a minha. E agora? Não conhecia ninguém, com um avião pra Vilnius em 7 horas e sem a minha boa e velha mochila. Os documentos e dinheiro estavam comigo em uma espécie de pochete, mas todo o resto estava na mala. Já estava me preparando psicologicamente. Me mandaram ir num guichê escrito Novia lá dentro mesmo, próximo a esteira.
    Lá, depois de uma fila só com árabes, que pareciam ser todos de um mesmo voo (pelo menos tinha mais gente só com a roupa do corpo), me disseram que tinham localizado a minha mochila e que ela chegaria no próximo avião vindo de Paris, mas que nada poderia ser feito sobre a minha câmera. Apesar dos problemas, daria tempo de ir pra Vilnius, além de poder ir e voltar na estação de trem e reservar as minhas passagens (apesar de ter o passe de trem, alguns tíquetes devem ser reservados). Tinha de fazer isso lá,mesmo, já que estaria fora de um lugar onde poderia reservar por mais de duas semanas.
   Sai e fui direto no guichê da Air France. Me repetiram a mesma coisa e que quanto a câmera, eu deveria procurar o setor de achados e perdidos em Paris. Paciência...
   Procurei a estação de trem dentro do aeroporto. Estranho. Não tinha bilheteria, só uma escada. Desci, passei pela funcionária, fui no fluxo pra dentro do vagão. Procurei um acento vago e confortável. Me sentei na frente de uma mulher. Era bonita, como a maioria lá. Ela me contou que tudo em Copenhague era muito caro e que todos lá iam a Malmö, na Suécia, pra fazer compras, principalmente de eletrônicos. Cada povo com o seu Paraguai... haha
Chegando a estação central de Copenhague
   Na estação central (grande, limpa e linda) fui direto procurar aonde fazer as reservas. Incrível. Nem o balcão de informações sabia informar. Mostrava o livrinho da Eurail. Talvez eu não estivesse sendo claro. Talvez conhecessem pelo logotipo. Com muito custo ( e várias perguntas depois ) encontrei o lugar. Várias filas. Cada uma com um motivo. Na hora H, me disseram que só poderiam reservar passagens dentro da Dinamarca. Seria mais fácil terem me informado que eu estava na fila errada e que poderia ter feito tudo na fila 6. Só descobri isso na minha segunda visita a cidade. Aos poucos, a gente aprende.

Os taxis Mercedes. Ao fundo, informações turísticas
   Resolvi dar uma volta. Não iria chegar até o centro da cidade e só ver a estação de trem. Sai. Vento frio. Virei a cabeça e surpresa: muitas Mercedes. Nunca tinha visto tantas. Várias fileiras. O frio podia estar fazendo miragens. Olhei de novo. Eram todos taxis. Se, na estação, meu cérebro já tinha se convencido que não estava mais no Brasil,  naquele momento, também me dei conta de que realmente estava na Europa.
   Os prédios eram, na maioria, relativamente baixos e com o mesmo estilo arquitetônico, inclusive a própria estação de trem. Os ônibus me lembraram um pouco os de Curitiba. Resolvi andar. Fui parar em um prédio que por fora parecia os demais, porém, por dentro, era um escritório com uma decoração super arrojada. Era um local de informações turísticas. Tinha de tudo e gratuito, mapas e informações, e com aquecimento. Bem agradável. Meu cérebro começou a funcionar, mas já era hora de voltar.
   Voltei a estação. Peguei o trem. No vagão, me sentei em frente a uma portinha. De lá, saiu uma senhora que me pediu o bilhete. Perguntei: "precisa?" Ela me perguntou da onde eu era. Respondi: "Brasil" (queimando o filme da pátria amada :-) ). Ela me disse que precisava, senão teria que pagar uma multa (de 300 euros). Disse que não tinha visto aonde comprar os bilhetes. Ela respondeu: "upstairs". Me disse pra saltar na estação seguinte e comprar o bilhete e pegar o próximo trem. Foi bem camarada. Saindo rápido, deixei o dinheiro que contava cair no chão. Me devolveram. Se fosse no Brasil, quem devolvesse viraria manchete de jornal.
   Sai do trem, subi as escadas, sai da estação. Nada de bilheteria. Perguntei a uma mulher que passava. Ela me apontou uma máquina que mais parecia um caixa eletrônico amarelo. Nunca teria imaginado. Ela me ajudou a comprar a passagem. Voltei ao trem.
Essas promoções de free shop, sempre iguais...
   No aeroporto, depois de um sanduíche (o resto era caro mesmo), me disseram que eu deveria falar em um telefone atrás de um elevador com o pessoal da Novia, já que o guichê era ao lado das esteiras de bagagens. Lugar "inacessível". Do outro lado da linha, o rapaz me respondeu que era pra eu esperar lá mesmo, que a minha bagagem já chegaria. Esperei... esperei... Liguei de novo. Mesma resposta.
   Um tempo depois, chegou uma mulher. Ela contou que estava na casa de parentes numa cidade próxima e que estava esperando a bagagem perdida por uma semana. Nada motivador pra quem tem passagem comprada pra 3 horas depois. Ela também usou o tal telefone. Falou na língua deles, dinamarquês (dansk). Mesma reposta. Mais um tempo esperando e surge um pessoal no saguão com um carrinho cheio de malas. No início pensamos que fossem as nossas. Engano. Contamos que estavamos esperando há um tempão e que precisávamos ir no guichê da Novia. Eles disseram pra segui-los. Passamos por uma porta com acesso por senha. Chegamos no guichê. Lá, o cara reclamou, pois não era pra estarmos ali. A mulher falou com ele a situação em dinamarquês. Tive a impressão que se não fosse por ela, não teria dado certo.  Nada como alguém do lugar. Alguns minutos depois, estava novamente de mochila nas costas. Que sensação ótima !!!
   Pronto pra embarcar pra Vilnius.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

De Lenin a Churchill - Preparativos - Parte 3

Micos fazem parte... :-)

   Fiquei uns dias sem postar. Tive que viajar no Natal. Mais de 1000 quilometros de carro cansam muito, principalmente depois de ficar mais de uma hora perdido em São Paulo, porque o GPS falhou. Fui parar do outro lado da cidade. Não me orgulho de ter dependido tanto da tecnologia pra viajar, mas sempre se deve ter um plano B guardado. Ontem não tive.
   Bom, hoje sou a prova de que zumbis escrevem.
   Continuando sobre o planejamento, nas minhas duas ultimas viagens, fiz as minhas planilhas de um jeito que pudessem me ajudar nos preparativos, mas que também fossem úteis durante a viagem.
  • A primeira, dividi a viagem pelos transportes. Tinham dados como a rota, duração, data e hora, número do transporte, preço, etc...
  • A segunda, tinham as hospedagens para cada cidade. Com datas, preço, etc...
  • A terceira, com os consulados, afinal de contas, é sempre bom estar preparado.
   Então, pra preencher as minhas planilhas e tornar a viagem real, tinha que escolher passagens e reservar albergues. Na primeira viagem pela America do Sul, reservei tudo. Na segunda, só reservei o tour para o Salar de Uyuni. Resultado, quase não conseguimos um guia para Machu Picchu e pegamos um ônibus bizarro, pq não tinha passagem para o trem. Foram aventuras muito legais, mas decidi que iria pegar leve com a Europa, por ser a primeira vez e não conhecer como as coisas rolam por lá.
   A pior parte da viagem, e a mais cara, é a de ida e volta do Brasil. Ainda mais no meu caso, que iria chegar em uma cidade e voltar por outra. Por sites, a maioria só te dá a opção de ir e voltar do mesmo lugar. Poucos te oferecem a opção de montar um roteiro, mas eles existem.
   Então, comecei procurando por agências de viagem. Na época, a dona da agência também se preparava pra pisar em solo russo, em um cruzeiro. No roteiro dela, iria visitar São Petersburgo. Mas, como iria dormir no navio, não precisava de um visto.
   Falei com essa e outras agências, por telefone ou pela internet; vi o site de mil companhias aéreas, tentando ver a passagem mais barata e, por fim, acabei encontrando um dos poucos sites de que falei, que me davam a opção de escolher um roteiro e que me deu um bom preço de verdade, porém, quando estava crente que a passagem estava na mão, recebi um e-mail que meu cartão não tinha sido aprovado. Lá fui eu tendo que pagar no banco pra poder segurar o preço que não aparecia mais como disponível. O famoso pegar ou largar. Assim comprei a minha passagem Rio-Copenhagen e Londres-Rio. Mas meu destino inicial era Vilnius, capital da Lituânia, tive que comprar outra com uma folga de 7 horas pela AirBaltic. Usar duas empresas diferentes é sempre um risco e esse vôo não fugiu a regra. Mas isso fica pro próximo post. De qualquer forma, paguei além da passagem e das taxas de embarque, uma taxa pra poder levar a minha mala (se tem mala, tem que pagar) e outra pro caso de ter que remarcar a passagem. Ficou no total de 120 euros.
  Sobre o caminho entre a Lituânia e a Rússia, quase peguei um trem, mas teria que pegar outro visto, dessa vez um de trânsito pra Belarus. Não tinha interesse em outro visto, mas pesquisando mais um pouco, descobri que pela empresa Ecolines, ele iria pela Letônia por 51 euros. Menos um problema.
  Procurei também comprar o famoso passe de trem, da Eurail. Se é uma boa? Não decidi muito bem até agora. Foi útil porque podia sair entrando nos trens. Quanto ao preço, no meu caso, não tenho certeza se compensou, foram 603 euros e, pela minha idade, tive que comprar mais caro com direito a primeira classe (se tiver assento vago e em alguns casos, tendo que reservar). E se não ler bem as instruções, pode fazer a felicidade de um bilheteiro espertão.
   As passagens de trem dentro da Rússia, que não é coberta pelo passe, é uma situação a parte. Não são vendidas pela internet. Mas pros que não falam russo e que querem deixar tudo acertado e tem tempo apertado, como eu :-), existem empresas que compram essas passagens. O problema é procurar quem quer lucrar um pouco menos. Eu tinha dois trens: de Moscou a São Petersburgo (56,08 libras) e de lá pra Riga, capital da Letônia (50 dolares). Escolhi uma chamada Real Russia. Só teria que ir pegar as passagens no escritório deles em Moscou. Outro site que tem esse tipo de serviço é o Way to Russia, ambos em inglês.
   Descobri nos sites afora a existência de um navio que liga Helsinque a Estocolmo onde rola uma balada da Viking Line. Chamam essa linha de Love Boat. Como eu tinha o passe de trem, tinha um abatimento e ficou por 99 euros. Bom, já que vou ter que fazer o trajeto mesmo, faço esse sacrifício... haha
   Só faltou comprar os trechos entre Riga e Tallinn, também pela Ecolines, por 12,80 euros, podendo fazer pela Eurolines, que também vai pra Rússia; entre Tallinn e Helsinque, na época mais barato pela Linda Line (16,20 euros); e de Paris e Bristol, pela Easy Jet (63,49 euros).
   Já as estadias, escolhi pelo site Hostel World escolhendo os mais baratos dos melhores avaliados. Deu certo. Vou falando de cada albergue no post de cada cidade.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

De Lenin a Churchill - Preparativos - Parte 2 (Russia)

Visto russo - Primeiro passo

   Neste post, o foco será somente sobre os preparativos para a Russia. Foi realmente o que deu mais trabalho. E foi uma verdadeira quebra de barreiras. A Russia é sim uma quebra de barreiras e falo das pessoais. Vimos ela como misteriosa e realmente tem os seus mistérios, e de repente, estar cada vez mais próximo de pisar na Praça Vermelha, é realmente incrível.
   Primeiro passo, visto para a Russia. Ir pra lá era muito importante pra mim e disso dependia todo o roteiro.
   Vi algumas informações diferentes entre o site da embaixada e o do consulado do Rio, então resolvi falar direto na fonte e fiz minha primeira visita ao consulado russo. O local parece uma fortaleza. Um muro alto e um portão na frente com uma guarita. Curioso que a bandeira russa não estava hasteada e só tinha uma pequena placa na frente, que só se via ao se aproximar do grande portão de entrada. Falei o que eu queria, apesar de não ter entendido a resposta, uma voz feminina com um português enrolado, mas o portão abriu e entrei. Primeira vez em território russo, pensei :-)
   Lá tinha uma saleta com grande espelho de um lado e um vidro do outro com um escritório do outro lado. Me lembrei dos filmes de militares onde tinha uma sala de interrogatório e os investigadores do outro lado do espelho fazendo as perguntas. Por via das duvidas, melhor me comportar... :-) No escritório, tinha uma senhora séria e com um jeito duro de falar. Perguntei do que precisava e ela disse somente pra eu preencher o formulário e pedir ao albergue o "Visa Support Letter" e que eles saberiam do que se trata. tentei perguntar mais, mas ela repetiu a mesma informação. Me entregou por uma gavetinha o formulário. Depois vi que o mesmo documento pode ser encontrado no site do consulado russo.
   O "Visa Support Letter" é um "convite" de alguém. Pode ser um amigo, um hotel ou um albergue. Existe um site que promete vender este convite. Eu cheguei a ler isso e depois conheci gente no albergue que disse ter feito isso. Sei lá... Melhor fazer direito... Bom, então tratei de reservar os albergues em Moscou e São Petersburgo. O maior problema foi a incerteza se o papel chegaria (nunca tinha recebido uma carta da Russia - tinha lido que deveria ser um documento original) e não queria perder o preço que tinha visto das passagens, mas sem o convite não dava...
Recebi o convite dos dois albergues. Vieram por e-mail. É aceito assim. Mais prático. Na verdade, não precisava dos dois, já que com um convite se pega o visto que vale para toda a Russia. Só não pode ficar mais tempo no país do que o declarado. Sobre vistos, veja os posts #2 e #3 clicando aqui.
   No e-mail tinha uma unica folha. Me disseram que aquele convite valia como voucher turístico e confirmação da reserva. Paguei por ele lá, com as diárias, nada muito caro, coisa de uns R$ 50,00 - 900 rublos. Paguei também pelo registro na cidade. Em cada cidade, se deve pagar um registro para poder circular. Diziam que a cada esquina um policial pede os documentos. O registro sai uns 500 rublos.
   Na segunda visita, a primeira diferença é que tinha alguém visível na guarita. Lá dentro, tinham três pessoas. A mesma senhora, um rapaz e uma garota. A garota me deu um sorriso. Quebrou um pouco do gelo que aquela pequena saleta tinha até então. Fui atendido pela mesma senhora. Entreguei os papeis (formulário e voucher - "convite") e passaporte pela mesma gavetinha e recebi um micro papel com uma conta bancária e um valor. Ela me disse pra ir imediatamente no banco para pagar a taxa naquela conta escrita, e voltar com o comprovante para que se iniciasse o processo para a emissão do visto. Tentei perguntar se poderia pagar ali, mas ela repetiu a resposta. Ok, lá fui eu.
   O dia tava quente e eu não conheço bem o bairro. Tive que procurar a agência. Verão no Rio. Um calor enorme.
   No banco, depois de uma boa fila, o atendente riu do tamanho do escrito. Se ele soubesse o cuidado que tive com aquela tira de papel. Sabia que a senhora do consulado era de poucas palavras e não queria que nada desse errado.
   Voltei. Já era meio-dia. Encontrei pela primeira vez uma fila. Todos deixam pra resolver suas coisas na hora do almoço. A maioria pareciam ser estudantes e a papelada parecia ser bem maior do que para um turista. Reparei numa garota sentada com o namorado que folheava documentos em uma pasta muito cheia para apresentar.
   Na minha frente, tinha um rapaz, também vestia roupa social. Na vez dele, foi atendido pelo rapaz. Pelo que vi, ele entregou os mesmos papeis que eu, junto com o passaporte, e fez a mesma pergunta que eu tinha tentado fazer: Se poderia pagar lá mesmo. A resposta foi sim. Prefiro acreditar que o assunto dele era outro. Ouvi dizer que na parte burocrática, na Russia, se podem ter respostas diferentes pra mesma pergunta. Na hora, fiquei chateado. Mas quem já foi a uma fila da Caixa Econômica ou do INSS sabe que aqui, em lugares burocráticos, a coisa não é tão diferente assim. Recebi o meu recibo e o prazo de 10 dias. Eles podem entregar antes, mas a taxa é mais alta.
   A terceira visita foi pra pegar o passaporte com o visto. Confesso que a sensação foi como se tivesse ganhado um premio. Era o primeiro sinal físico da minha ida. Com o voucher até fiquei nervoso se o papel iria chegar, se iria extraviar, mas o visto era o primeiro momento real.
   Posso comprar as passagens.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

De Lenin a Churchill - Preparativos - Parte 1

Preparativos - O início da estrada

   A intenção do post anterior era falar dos preparativos desta viagem. Terminei falando dos problemas que acontecem em toda viagem e não foram diferentes nesta.
   Bom, como começar a pensar num roteiro... Sabia que queria ir pra Russia e sabia que queria visitar uns primos em Bristol, na Inglaterra. O resto do roteiro foi ligar os pontos, juntando principalmente os que tinha algum interesse em conhecer. Lituânia, Letônia e Estônia me chamavam a atenção por terem sido os primeiros a sair do bloco soviético. Foi até um motivo de ter começado a viagem pela Lituânia. Não sabia como seria na alfândega russa e quis começar por um país com algum tipo de tratado com o Brasil de entrada. O começo de uma viagem deve ser tranquilo.
   A Lituânia, com outros 24 países europeus, fazem parte do tratado de Schengen. Por ele, somente é pedido maiores tramites, como o famoso carimbo da alfândega ao se entrar e sair do espaço Schengen. O Reino Unido, apesar de fazer parte do acordo, não age assim em relação aos brasileiros. Muita gente foi lá ilegalmente, principalmente na época em que 1 libra valia 5 reais, e acabou por complicar o nosso nome por lá. Foi um motivo porque deixei a Inglaterra por último. Se fosse extraditado, já teria feito quase toda a viagem. Um homem sozinho brasileiro na media de idade da maioria dos ilegais. Digamos, por hora, que o meu cuidado se mostrou relevante. Vou falar disso no post sobre a Inglaterra.
   Pela Finlândia e Suécia tinha um interesse extra pela historia viking. A Dinamarca entrou como uma passagem e se transformou em uma feliz surpresa. O resto entrou como caminho obvio no mapa e também se mostraram muito interessantes.
   Ah sim, sabia também que não queria comprar passagens com escala pela Espanha. Sobre isso, vou passar a bola pra outro blog

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Sobre preparativos de viagem

Na Isla del Sol, às margens do lago Titicaca

   Tem vários requisitos que não podem ser deixados de lado quando se planeja uma viagem longa, principalmente de tipo mochilão. Não se tem ( nem se quer ) "regalias" do tipo, guia pegando o grupo no aeroporto, fazendo um roteiro corrido ( no ritmo dele e não no seu ) vendo tudo o que já foi previamente combinado.
Temos que cuidar de tudo: Dinheiro, itinerário, tempo, reservas, passagens, planejamento do que fazer, vistos (como na Russia), vacinas (como na Bolívia), etc...
   Primeiro passo, pesquisas online e guias e, se conhecer, falar com alguém que tenha qualquer informação útil, pesquisas por horas a fio pra ver o que é legal ou não, o que vale a pena ou não. Sempre vai conhecer algo a mais bem legal e descobrir algum lugar que parecia legal em fotos e que é uma boa furada...
   Minha primeira viagem foi dentro do país. Comprei um guia e pé na estrada. Em cada cidade, na última noite, decidia qual seria a próxima parada. Algumas coisas saíram errado, mas nada muito grave, como em Olinda em que tive que dormir em um quarto fedendo, isso porque insisti muito. Melhor fedendo do que na rua...
   Um planejamento de viagem pra mim, serve como um guia que procuro seguir, me manter dentro do que me motivou a por o pé na estrada pra ir a um determinado lugar, mas nunca deve ser algo restrito, fechado. Afinal de contas, a vida não é algo assim e se um dos motivos de sair de casa é sair da rotina, pra que fazer uma nova. As vezes, se descobre que não se precisa ficar muito tempo em uma certa cidade ou que simplesmente não valia a pena, como estar em uma cidade onde a maior atração é a praia e estar chovendo demais. Ou o contrário, como se descobrir que vai ter um super evento na cidade. São situações que são além da nossa vontade. Na minha primeira ida a Argentina fiquei um bom tempo no banheiro. Game over...
   Pesquisar sobre o clima do lugar pra saber que tipo de roupa vai levar entre outras coisas são outro ponto importante.
   Eu sempre pego um amontoado de informações, depois filtro as que valem mais a pena e vejo todas as formas de chegar entre uma e outra pra decidir o melhor roteiro, verificando quanto tempo preciso para cada cidade, sempre comparando o tempo total com o meu tempo disponível. Na última viagem, por exemplo, tive que cortar a Noruega. Ok, fica pra próxima.
   O dinheiro é um fator importante também. Depende do seu tipo de viajante. Eu, acredito que como a maioria dos mochileiros, sou do tipo que dorme em albergue, pode comer num restaurante ou um sanduíche no mercado, dependendo do dinheiro ou do tempo ou mesmo do que tem disponível. Faço uma conta por alto de R$ 150,00 a R$ 200,00 por dia. Deu uma boa média. Pra países baratos como a Estônia, gastei muito menos. Uma hora e meia de viagem de Tallinn, a capital de lá, já na Finlândia, em Helsinque, o gasto foi bem maior. Para viagens internacionais, o ideal é pensar em dolares, já que sempre estamos na mão das cotações. Falando nisso, é interessante notar que UM é sempre UM. Se está na Bolívia, uma garrafa d'água pode ser um Boliviano, mas já na França, pode ser um Euro. Ouvi alguém num albergue dizer que na Europa se sabe se um país é caro ou barato pela cotação do churrasco grego (o kebab). Até que é verdade... haha É rápido, barato e enche a barriga. Mas tem gente que viaja com muito menos. Eu não quero apostar, até porque tem países que querem saber se o viajante tem dinheiro que eles consideram suficiente pra ficar os dias que declarou, como na Inglaterra. De qualquer forma, acabou sobrando dinheiro e ainda consegui trazer algumas coisas de lá. Aproveitar uma boa promoção não é pecado :-)
   Isto é só um início por alto. Vou entrando em mais detalhes a medida que for falando especificamente de cada viagem.
   Acho que escrevi demais. Tenho a sensação de que irei todas as vezes mesmo... :-D
Inté mais

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sejam bem vindos !

Como se llama una llama???

   Quero neste blog compartilhar as experiências que tive nas viagens que fiz.

   Foram todas no estilo mochilão, não foram muitas, mas foram todas muito especiais.

   Conheci muita gente legal ( alguns são amigos até hoje ), conheci lugares especiais, conheci formas diferentes de encarar a vida.

   E conheci melhor a mim mesmo...

   Pretendo dar dicas, colocar fotos, escrever coisas interessantes que aconteceram, lembrar de tudo. Sei como é importante para quem vai viajar e fazer o seu roteiro de informações e quanto mais, melhor. Está na hora de dar a minha contribuição para a comunidade.

   Resolvi dar nomes as viagens, porque acho que vai ser mais fácil imaginar que escrevo um livro e que estes são os capítulos. Espero que gostem.

   Bom, a primeira viagem foi dentro do Brasil ( O Caminho para o Nordeste -2004 ). A segunda, foi para o Chile, Argentina e Uruguai ( Conhecendo o Mercosul - 2006 ). A terceira, foi para a Bolívia, Peru, norte do Chile - Atacama e norte da Argentina ( A Saga a Machu Picchu - 2008 ). A quarta foi a travessia Petropolis-Teresopolis (No Alto do Sino - 2008) e, por último, parte do norte da Europa - Lituânia, Russia, Letônia, Estônia, Finlândia, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Holanda, Bélgica, França e Inglaterra ( De Lenin a Churchill - 2010 )

   Tem outros lugares que visitei e que vou incluir também, como Brasilia, Cuiabá e Lambari.

   Vou começar a escrever pela última viagem, até porque está mais recente na minha cabeça.

   Pena não ter começado antes. Acho que vai ser legal.